Perdoei, mas não esqueci... sorry!

Perdoar não significa esquecer.
Às vezes me pergunto de quem teria partido a idéia de que o perdoar depende do esquecer.

per.do.ar - (lat perdonare) vti e vint 1 Conceder perdão a; ser humanitário, tolerante; Deus lhes perdoe. "Perdoa, se queres" (Alexandre Herculano). vtd 2 Absolver, remitir (culpa, dívida, pena etc.); desculpar:   vpr 3 Poupar-se;

es.que.cer - (lat vulg *excadescere) vtd 1 Deixar sair da memória; perder a memória de; tirar da lembrança; olvidar. vpr 2 Perder a lembrança ou a memória; olvidar-se. vtd 3 Não fazer caso de, pôr em esquecimento. vti e vint 4 Escapar da memória, ficar em esquecimento. vtd 5 Descurar-se de: Não esquecia as suas tarefas. vpr 6 Descuidar-se: Meu secretário esqueceu-se de tudo. vtd 7 Abandonar, desprezar. vtd 8 Não ser mencionado, por descuido ou falta de atenção: Ia-me esquecendo do recado. vpr 9 Estar ou ficar enlevado: Esquecia-se perante aquele deslumbramento. vint 10 Distrair-se de coisas molestas: Bebia para esquecer. vpr 11 Não atender: Agiu mal, esquecendo-se da companhia em que estava. vint 12 Ficar dormente ou tolhido, perder a sensibilidade.
(ambos de Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis)
Não e não.
Pra mim, o perdoar prescinde o esquecer.

Mais que isso: perdoar implica necessariamente no não-esquecer.

Ora,  o que perdoa, espera não ter que "reperdoar" (pelo menos aquele mesmo delito, erro, descuido... bater na mesma tecla, sabe?).
Não que não se possa ou se deva perdoar de novo e de novo e de novo....
(lembrou do que disse Jesus??)


     Então Pedro, aproximando-se dele, disse:
     Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim,
     e eu lhe perdoarei? Até sete?
    Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.
                         (Matheus 18, 21 e22)




Ora, esquecer é para quem bateu a cabeça na parede,
                                                      sofreu um avc, ficou meio bilolado,
                                                                                              perdeu a memória, coisa assim.

Perdoar é escolha. Vontade. Querer.
É optar por ser feliz .
O que perdoa, respeita o perdoado. É generoso com o outro.Age com compaixão.
 Não deseja ferir, ama.
E quem ama, serve. E não há orgulho neste seu perdoar.



O que perdoa transcende. Deixa pra lá.
Resolve que vale a pena.
O amor basta e a vida continua (e não há nisso garantia alguma de não passar por novos escorregões).


 E o perdoado?
 ah, o perdoado... acho bom que ele saiba que não foi esquecido.
Mas não significa que precise ser lembrado (nada mais covarde e sórdido).
Ao perdoado resta a chance de se redimir, de mudar, de tentar, de amar, se sentir amado.
Para o perdoado resta o maior trabalho - cabe a ele se perdoar antes de tudo. É penoso. Leva tempo.
Terá que superar a culpa.
Apenas diante do amor é que o perdoado poderá voltar acreditar em si e caminhar em direção a alguma mudança.

O perigo do esquecimento (caso v. tenha batido a cabeça numa quina qualquer ou coisa assim) é justamente a repetição dos erros, faltas, ofensas, desrespeito.
Assim, a pessoa que sofre agressões psicólógicas do companheiro, por mais que ame de paixão, não deve "agir como se nada tivesse acontecido", caso contrário, sofrerá ininterruptamente as mesmas e cada vez piores agressões.

Quanto a relação em si,
o perdoador e o perdoado
 é que decidirão se continuam
 (a relação, a amizade, a sociedade)

ou tocam a vida pra frente...cada um pro seu lado.
Aí, só mesmo o querer, o amar, o renunciar, o servir.




Ainda em tempo, SEMPRE vale à pena perdoar.